Escola é para socializar? É para aprender? É para fazer letra cursiva? É para quê? Papo de pai, por Carlos Wagner Jota Guedes

foto-4Escola para quê?

* Carlos Wagner Jota Guedes

Leio e vejo inúmeras notícias e fotos todos os dias de crianças e adolescente com algum tipo de deficiência e que, segundo aqueles que postaram ou divulgam a informação, estão mais felizes nas escolas regulares do que nas escolas especiais que estudavam antes. Todavia, o argumento é sempre de que eles estão mais felizes porque têm vida social com crianças e adolescentes não deficientes e de que isso faz bem para ambos. Acho importante este aspecto da sociabilidade na vida das pessoas, mas a escola não é o único local em que crianças e adolescentes podem se encontrar e não é exclusivo da escola ser ponto de encontro.

 

No artigo 2º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) encontramos a seguinte descrição da finalidade da educação formal, àquela aprendida na escola: “a educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Como podemos observar ir à escola significa muito mais do que ir socializar-se com outros indivíduos, embora isso seja importante, frequentar escola significa aprender determinadas formas/conteúdos considerados adequados e necessários para o desenvolvimento do educando, para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

 

No que se refere ao João à escola é espaço social de interação com outras crianças. Aliás, é ali basicamente que ele convive com crianças, mas escola é também local de aprendizagem do português, da matemática etc…. A escola tem metas estipuladas do que quer que essa criança consiga e de como consiga. Pensar na inclusão educacional de nossos filhos que possuem alguma deficiência, alguma necessidade educacional especial ou conceito que o valha é coloca-los para aprender o que qualquer outra criança de sua faixa etária tem que aprender, é permitir que a complexidade do mundo do conhecimento entre em seu corpo/alma e o transforme para ser outra coisa para o qual ele não nasceu para ser (para o sociólogo Durkheim a educação é daqueles processos que nos retira da animalidade, nascemos para sermos animais, e nos transformarmos em uma coisa que não está previsto em nosso código genético que é ser humano pela educação). Como fazer isso? Agora é a hora dos membros da comunidade escolar começarem pensar em como fazer. Não ter medo de propor alternativas ruins, que podem ser desmanchadas a qualquer momento, não ter medo de permitir que todos tenham dentro de suas condições possibilidades de viver a aventura do conhecimento. Como permitir aos “malacabado”, como diz Jairo Marques do blogue Assim Como Você, que nossos filhos, possam ser cidadãos e trabalhadores de um mundo cada vez mais complexo. Com certeza não é transformando a escola em passatempo inclusivo.

 

Para terminar, durante um tempo teve-se dúvida se o João poderia ou não habitar o ensino fundamental porque ele não dominava, e é possível que não vá dominar nunca, a escrita cursiva. Por causa deste ponto todos os progressos estudantis dele foram questionados e sua trajetória escolar debatida. Quando contei isso para a atual coordenadora pedagógica dele, ela afirmou aquilo que eu sempre acreditei: se o problema é a letra cursiva, vamos achar outra letra que ele consiga utilizar, porque o que é importante não é a letra cursiva, mas a capacidade de comunicar aquilo que se quer comunicar através da forma escrita. Não sei o futuro, mas hoje minha alma encontrou sossego para a escolarização do João.

 

*Carlos Wagner é graduado em Ciências Sociais e mestre em Sociologia. É entre outras coisas pai do João. Assina a Coluna Papo de Pai, publicada toda quarta-feira em http://www.tudobemserdiferente.com

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